A dramaturgia de Silvia Gomez para “O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade” é exemplo notável desta proposição. Segundo fruto do Círculo de Dramaturgia do CPT que chega à cena, o texto sustenta um espetáculo que, sem abdicar de uma situação dramática, mas para além de esquemas convencionais, constrói-se na justaposição de falas aceleradas e vozes intensificadas. Esta massa sonora organiza-se aos poucos no pensamento do espectador. A enunciação extremada não favorece a formulação de um sentido, mas permite leituras e possibilita narrativas. Se há um tema em jogo é o da patologia. Ele aparece explicitado sem recalques nem pudores, no núcleo familiar ou o triângulo pai, mãe e cria. A ficção está oculta e o que se revela é o estado limite da doença chamada família, quando a distância e a dependência mais intricada convivem em tensão. O que se vê e percebe é a matéria-prima do patológico. Mesmo não evitando as referências a nomes e circunstâncias, o grande feito da dramaturgia é manter-se pairando acima deles como estridência que não se apanha, ou impasse sem porta de saída. O texto convida o ouvinte a tomá-lo em blocos sonoros fechados e articulados em repetições, de modo a insinuar alguma cognição, mas sem abdicar de uma fruição mais aberta, da cena como uma presença que fala por si.